Para refletir...

“Não adianta me darem uma peça como Hamlet ou O Rei Lear e me mandarem escrever algo semelhante. Shakespeare era capaz, eu não. Também não adianta me mostrarem uma vida como a de Jesus e me mandarem viver de igual modo. Jesus era capaz, eu não. Porém, se o gênio de Shakespeare pudesse entrar e viver em mim, então eu seria capaz de escrever peças como as dele. E se o Espírito Santo puder entrar e habitar em mim, então eu serei capaz de viver uma vida como a de Jesus". (William Temple)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E se Jesus tivesse vindo nos dias de hoje?

Que frases e exemplos Jesus usaria se tivesse vindo nos dias de hoje? Uma das coisas que sempre admirei em Jesus enquanto esteve aqui na terra foi a sua capacidade de traduzir de forma acessível a Sua mensagem. Ele não complicava as coisas. Ele não tinha prazer em falar difícil para “posar de culto”.  Às vezes Ele não era compreendido, mas isso não tinha a ver com incompetência argumentativa dEle.

Uma das marcas do ministério de Jesus foi falar por parábolas, por exemplo. Essa estratégia fazia com que o humilde entendesse a mensagem imediatamente ou voltasse trazendo perguntas. Os mistérios do reino dos céus, na maioria das vezes, atraíam e informavam os humildes, mas também afastavam e confundiam os orgulhosos (Mt 13.10-17). Outra estratégia de Jesus era mergulhar no contexto do dia-a-dia das pessoas e aplicar a Sua mensagem de uma forma ímpar. Ele disse para dois homens que lançavam as redes ao mar: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens”!  Por isso, é tão importante ler os Evangelhos (e a Bíblia toda) entendendo o contexto das pessoas envolvidas: sua maneira de pensar, sua cultura, seus costumes, seu conhecimento. Se você não faz isso, fica difícil compreender com plenitude, por exemplo, o que Jesus queria dizer quando afirmou que “não se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire” ou quando contou, por exemplo, a parábola da dracma perdida. Confesso que quando li pela primeira vez esse texto, tive primeiro de buscar no dicionário o significado de dracma.

Pensando sobre essas coisas fiquei imaginando as frases e os exemplos que Jesus usaria hoje em dia para traduzir a sua mensagem. Já adianto que nasci no início da década de 80, o que justifica alguns dos devaneios a seguir.

Quando criança e adolescente eu e meu irmão completamos muitos álbuns de figurinha. Tivemos o álbum “Animais de todo o mundo”, “Amar é”, do “Campeonato Brasileiro”, da “Copa do Mundo” e muitos outros. Era comum o bafo (bater figurinha no intervalo da escola) e também a troca de figurinhas. Sempre existiam aquelas que eram as mais difíceis. Quando achávamos alguém que tinha uma figurinha “difícil” (do Zico, por exemplo) nós a trocávamos por 10 ou 20 figurinhas. Mas, o mais interessante era quando faltava apenas uma para completar o álbum. Não adiantava ter um bolinho com 200 figurinhas repetidas. Nós íamos em busca daquela que faltava. Quando encontrávamos alguém que tinha a última figurinha para completar o nosso álbum, rapidamente dizíamos: “Eu te dou meu bolo todo de 200 figurinhas repetidas que tenho por essa única que você tem que falta no meu álbum!” A parábola do tesouro escondido ou da pérola de grande valor soa para mim como a parábola da última figurinha do álbum. Nada se comparava a alegria de ter um álbum completo!

Quando criança, houve uma fase em que minha prima era muito magrinha e foi aí que ela começou a tomar “Biotônico Fontoura”. A propaganda dizia que o Biotônico dava uma fome de leão! Rapidamente a experiência se espalhou como febre nas crianças da família. Era só tomar diariamente uma colher de Biotônico, 30 minutos antes do almoço, e o “prato de pedreiro” podia ser colocado à mesa. Crianças magricelas, enfraquecidas e sem apetite, em poucos dias, passavam a se alimentar bem e ter um crescimento exponencial. Fala sério! Para mim, a parábola do fermento faz pouco sentido, prefiro traduzi-la como a parábola do Biotônico Fontoura!

Se Jesus tivesse vindo nos dias de hoje, talvez ele fosse amigo daqueles que antes faziam parte do rol de membros da cracolândia. Talvez Ele mandasse algumas pessoas doarem seus 200 pares de calçados para então entrarem no reino dos céus. Certamente Ele te mandaria devolver a caneta que pegou no escritório. Talvez Ele pregasse um sermão com base na atual novela das oito (“Insensato coração”). Talvez Ele multiplicasse coca-cola no casamento de alguém. Como bem disse um amigo meu em sua poesia, Ele também estaria cercado de gente: “Pobres, doentes, mendigos, melindrosos, índios, negros, mulheres, crianças, depressivos, bipolares, workaholics, empreiteiros de obra pública, gays, desempregados, e muito mais” (Pr. Carlos Magalhães). Talvez Ele questionasse por que muitas vezes ganhamos o mundo inteiro de amigos na internet e não falamos com o nosso irmão que divide conosco a beliche! Acho que talvez Ele falasse sobre Orkut, hackers, “imagem & ação”, “jogo da vida”, facebook, família dinossauro, o exterminador do futuro, caverna do dragão, sei lá.

Só sei de uma coisa: Ele jantaria com pecadores e seria repreendido pelos religiosos! Ele mandaria dar a outra face! Ele falaria da necessidade de amar os inimigos! A essência de Sua mensagem não mudaria! Se Jesus tivesse vindo nos dias de hoje, o seu maior legado certamente também seria o exemplo. É por isso que Seus ensinamentos atravessam gerações. Jesus também continuaria proclamando em alta voz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”! O resto é secundário.